quarta-feira, dezembro 4, 2024
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Após um mês da morte do filho, veneciana conta como está sendo enfrentar o luto


Uma partida repentina e precoce mudou a rotina e vivência da família da Natashe Fiel, que com o falecimento do Caio, vem enfrentando a maior dor de sua vida. Primogênito, o adolescente tinha apenas 16 anos. “Perder um filho é começar a morrer, a dor é imensurável”. A afirmação é da mãe do menino, que na reportagem, narra um pouco de como está sendo viver sem aquele menino que falava alto, sempre de bom humor e com uma alegria cativante

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Ouvi-se dizer que quem perde os pais fica órfão, quem perde o cônjuge, fica viúvo, mas, e para quem perde um filho? “Perder um filho é começar a morrer. A dor é imensurável, a saudade fica dentro da gente e, por nenhum milésimo de segundo, dá para esquecer que o Caio morreu”. O depoimento de hoje é da psicanalista, Natashe Fiel, que há pouco mais de um mês, enfrenta a perda, repentina, do seu primogênito. Uma morte precoce, que pegou a família do Caio César Fiel Célia, de surpresa, afinal, quem espera a partida de um adolescente de 16 anos, que saiu de casa para uma festa com amigos? “Ele foi e não voltou mais com vida”, com a voz embargada, diz a mãe.

A intenção de hoje é falar sobre o luto, de como é viver cada dia, após a perda de alguém, que não vai almoçar junto com os pais mais, não vai acordar conversando alto, na maior alegria, naquele bom humor contagiante. Quem define as características citadas, é a mãe do Caio, que junto com o Marcos Célia, marido da Natashe e pai do adolescente, e o irmão, o André, 15 anos, estão enfrentando esse processo doloroso. “A morte é um grande mistério, pouco falamos dela, apesar dela fazer parte da vida de todos nós. Nunca senti dor nenhuma maior do que a que estou passando, perdi minha mãe, perdi pessoas queridas, mas perder um filho, é devastador. O que me conforta é o jeito que venho lidando com a morte. Eu não estou revoltada, acredito que o Caio ficou aqui o tempo necessário. Talvez o Caio esteve aqui para mudar muita coisa, pois nossas famílias mudaram após a morte dele. Acho que o Caio partiu no tempo dele, no tempo que deveria ser”, fala.

A reportagem esteve na casa da família, conversou com a Natashe, e durante a entrevista, a psicanalista explicou, como ela, o pai, e o André estão fazendo para lidar com a maior perda da vida deles. Confira!

A Notícia – Como recebeu a notícia da morte do Caio
Natashe –
Nós estávamos em nossa roça, Marquinhos e eu. Engraçado que aquele dia eu estava meio incomodada, parecia um dia triste.  Após a meia noite, o André (filho) me ligou, pedindo para eu ir para o hospital, porque havia acontecido algo com o irmão. O André estava em outro local, não estava com o Caio, saiu com outros amigos. Imaginei que fosse algum acidente ou algo com bebida, já que estavam vários jovens juntos, e saímos correndo para o hospital. Quando cheguei lá, vi aquele monte de gente na porta, já imaginei algo grave, mas jamais uma morte. Fui entrando no hospital e as pessoas abrindo as portas, me deparei com o Caio deitado em uma maca, na sala de emergência, coberto por um pano branco.

A Notícia – E sua reação?
Natashe –
Perguntei o que tinha acontecido, se ele estava morto? Teve aquele silêncio, ninguém respondeu nada, e eu vi que o Caio estava morto. Inacreditável, uma mãe se deparar com essa cena, é uma dor enorme. Eu fiquei ali, tentando entender, tentando acreditar e precisei cair na realidade. Eu acho que gritei, pediram para eu me acalmar, porque tinha outra pessoa sendo atendida na emergência, na mesma sala que ele estava. Depois de um tempo, comecei a fazer orações para que as espiritualidades conduzissem o Caio, ele era muito devoto de Nossa Senhora Aparecida, eu de São Miguel, pedi à minha mãe (de onde ela estiver), que ajudasse o Caio. Conversei com ele e falei que ele não precisava ter medo, que a mamãe, o papai e o irmão iriam sentir muita saudade, mas que iríamos ficar bem. Fiz a entrega espiritual do Caio ali.

A Notícia – O Caio estava com algum problema de saúde?
Natashe –
Não que soubéssemos. Mas depois, nossa secretária do lar nos avisou, que ele vinha tomando efervescente para o estômago naquela semana. Naquele dia, os amigos contaram que o Caio almoçou uma marmita pequena, ele não era disso, sempre comeu bastante. Mas durante o dia, ele comentou com os amigos que não estava bem do estomago também. Os relatos que temos, é que na festa, ele bebeu mais energético do que bebida alcóolica. Talvez o Caio vinha tendo problemas cardíacos durante a semana e não sabíamos. Eu também não iria associar mal-estar no estômago, com infarto, em um adolescente de 16 anos.

A Notícia – Qual a causa da morte do Caio?
Natashe –
Não sei, não sabemos ainda. A hipótese é de um infarto. Temos heranças de problemas cardíacos nos dois lados, tanto em minha família, quanto na do pai dele.

A Notícia – O Caio estudou fora?
Natashe –
Ele e o irmão estavam estudando em uma escola particular em São Mateus. Tentei de todas as formas, mas ele quis vir embora, pedia demais para ajudar o pai na oficina. O André ficou lá e ele havia vindo embora há dois meses, estava estudando de manhã no Estadual, e à tarde, trabalhava com o pai na oficina. Tínhamos tantos planos com ele, de vida…

“Perder um filho é começar a morrer. A dor é imensurável, a saudade fica dentro da gente”

Natashe Fiel, mãe do Caio

A Notícia – Como está sendo enfrentar o luto?
Natashe –
Nada fácil, mas aqui não tem ninguém desesperado, não estamos revoltados. Ainda estou em processo de negação, mas buscando a aceitação. Acredito que, para quem tem fé, para quem crê em algo espiritual, independente de religião, o processo flui melhor. Há dias que eu ainda não acredito que o Caio morreu, mas não questiono o motivo de ser ele,  e não,  o filho de alguém a ter partido, porque, se eu fizer isso, iria ser como se eu estivesse normalizando a morte do filho de outra pessoa, seria como se eu dissesse: por que não aconteceu com filho de fulano? Então, esse questionamento, eu não faço. O caio acho que teve o tempo dele aqui.

A Notícia – Como assim?
Natashe –
De repente o Caio veio ao mundo para provocar alterações, que talvez, só aconteceriam com sua morte. Tivemos muitas mudanças em nossas famílias, após o falecimento dele, e grandes. Quem era mais afastado está totalmente perto hoje, quem pouco se falava, se fala todos os dias agora. Tivemos muito apoio das nossas famílias, em todos os sentidos. Vi abraços sendo dados que há anos não aconteciam, e no fundo, acho que aquelas pessoas queriam mesmo se abraçar faz tempo.

A Notícia – O apoio, isso é importante?
Natahse –
Muito, é muito importante. O apoio da família e dos amigos está sendo grandioso. Não ache que você vai incomodar indo fazer uma visita para alguém que teve uma perda. Ir ao velório para apoiar alguém, também é essencial, senti isso, nos ajuda a nos fortalecer.

A Notícia – O que mais tem te ajudado?
Natashe –
Além da fé, dos familiares e dos amigos, o meu trabalho tem sido um grande aliado. Apesar do grande apoio que tivemos, e estamos tendo de todos, passam aqueles primeiros dias após o falecimento, e a casa volta a ficar vazia. As pessoas precisam trabalhar, não tem como ficar conosco aqui. Nós também precisamos trabalhar. Ocupar a cabeça tem me ajudado

A Notícia – E dentro de casa, como tem sido sem o Caio?
Natashe –
Triste, não há nada que eu faça que eu não em lembre dele, e eu verbalizo isso, não deixo de falar, nós não deixamos de expressar. A alegria do Caio era contagiante, ele tinha amigos de diversas idades e grupos, eu sabia que ele era conhecido, mas nem tanto. Caio falava alto, acordava de bom humor todos os dias, não parava, era uma energia enorme, um alto astral em pessoa, colocava apelido em todos, e ninguém se importava. Viver sem isso, sem ele está difícil.

A Notícia – O quarto dele está do mesmo jeito?
Natashe –
Sim, mas eu quero doar as roupas, entregar para quem pode usar. Ele tinha um violão, só ele sabia tocar aqui em casa, para que eu vou ficar com o instrumento? Quero ficar com coisas dele que eu passo utilizar de alguma forma, não quero apegos materiais. Estamos esperando o tempo interior do André, para que comecemos a mexer no quarto do Caio. É importante fazer isso, faz parte do luto, ficar com as coisas dele do jeito que ele deixou aqui, vai fazer mal para a gente e acho que para ele também.

A Notícia – Como está sendo a vida?
Natashe –
Eu não tenho vontade de levantar da cama, mas preciso. Deus me deu uma vida e eu tenho que honrar isso. Ainda, tem nosso outro filho que precisa de nós, tem meus pacientes, enfim, eu quero viver.

A Notícia – Teria algo a falar para quem está vivendo o mesmo que você?
Natashe –
A espiritualidade ajuda muito. Duas questões que precisam ser separadas: a dor e o sofrimento. A dor é inevitável, não tem como deixar de sentir, a saudade aperta. Já o sofrimento você tem como optar de como vai seguir com ele. Você pode se revoltar, ficar querendo achar culpando, brigar com Deus, se achar culpada e, muitas outras questões do tipo.  Isso só vai piorar. Mas se você vive esse sofrimento tentando aceitação, buscando a fé, torna a sua vivência mais fácil. A questão é como você vai viver, não tem como mudar, o Caio morreu. Preciso agora saber qual a melhor maneira que vou enfrentar isso, eu prefiro tentar aceitar. Entenda, não vai mudar a minha dor, mas vai mudar a maneira em que vou viver. O luto é uma montanha russa, uma hora você está bem, lembra da pessoa bem, e do nada, vem aquela saudade com dor, e a gente tem muita vontade de chorar. Para quem está de fora, deixe a pessoa chorar, ela precisa. Tem muita gente que fica ingerindo remédios para dormir, para acalmar. Mas acho que isso ficou banalizado, essa fase precisa ser vivida, senão a pessoa não prossegue e não flui na vida, ela fica ali no exato momento do luto por uma vida, fica ali estacionada, sem viver aquele momento do luto. É importante vivermos essa dor, elaborar o luto, para depois sair dele.

A Notícia – Defina um pouco o Caio?
Natashe –
O Caio era um menino feliz do jeito que era, gordinho, andava sem camisa, sem problema algum. Ele paquerava as meninas como os outros meninos da idade dele, era sempre foi autêntico. Onde ele estava, podia saber que estava brincando, rindo e sempre com autoestima lá em cima. Caio era sinônimo de casa cheia, e assim ele nos deixou, com coração cheio de saudade, mas agradecidos por ter o tido aqui, mesmo que por pouco tempo.

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