Há sete anos Enzo enfrenta uma batalha e a luta para a vida. Após três anos em tratamento em São Paulo, depois de ter sido intubado, passar por muitas quimioterapias e muitas dificuldades, o garoto agora está feliz da vida, e os pais, também, mas, por terem passado por tantas tempestades, segundo a mãe, o medo ainda ronda: “Nunca soube um caso como o dele, que tenha sobrevivido”
O morador do Córrego da Areia, interior de Nova Venécia, Enzo Sperotto Lasaro, 12 anos, tem muito a comemorar. É que no início desta semana, o menino teve alta, após enfrentar uma dura batalha: Enzo passou pelo segundo transplante de medula óssea alogênico, e teve três leucemias.
Para o último transplante, o garoto ficou em tratamento em um hospital de Barretos, em São Paulo, por um ano. “O normal seria que ele ficasse apenas seis meses, mas enfrentamos problemas. Meu filho teve rejeição de pele, suspeita de rejeição de fígado. Não foi fácil, não está sendo fácil, apesar de termos voltado, o medo bate. Já tentamos outras vezes e não deu certo, na verdade, eu não achei que fosse trazer o Enzo embora vivo, não é falta de fé, é porque eu nunca vi, nunca ouvi dizer e nunca li, alguém que tenha passado por dois transplantes como o dele e três leucemias, e tenha sido curado”, fala a mãe do menino, que é filho da professora Deltiane Pereira Dantas e Marcos Antonio Lasaro, produtor rural, ambos de 44 anos.
Depois de tanto tempo fora de casa, a família conta que agora, tenta se readaptar ao lar novamente, e, Enzo, também tem nova vida, porém, com algumas restrições. “Ele não pode ir para a escola, desde que começou o tratamento, não frequenta as aulas. Também não pode tomar sol, os alimentos precisam ser higienizados, muitas coisas ele não pode ingerir também, e nem pode ter convívio social, por enquanto, como os meninos da idade dele”, explica a mãe, que ainda completa: “Ele aprendeu Inglês sozinho, em casa, jogando videogame, é a nova rotina dele, e ele vai se adaptando. Agora, vou começar a o ensinar em casa também”.
“Eu não achei que fosse trazer o Enzo embora vivo, não é falta de fé, é porque eu nunca vi, nunca ouvi dizer e nunca li, alguém que tenha passado por dois transplantes como o dele e três leucemias, e esteja vivo”
Deltiane Pereira Dantas, mãe do Enzo
O morador do Córrego da Areia vai volta daqui há um mês para consultas e revisões, e de acordo com a Deltiane, a programação é que as idas a Barretos sejam com maiores espaços de tempo. “Pela terceira vez, o Enzo terá que tomar todas as vacinas de recém-nascido. Nosso psicológico está muito abalado, meu filho desenvolveu ansiedade e nós também, além de outras doenças, causadas pelo pavor que temos dessa doença, são sete anos lutando contra ela. Quero agradecer aos doadores de medula, sem eles, o Enzo não estaria aqui. Vamos seguindo, estamos felizes, mas com medo, mas vai dar certo agora”, desabafa a mãe.
Pai parou de trabalhar
Tendo que morar em Barretos, os pais do Enzo precisaram se organizar. A mãe, que é professora na Rede Estadual, em uma escola de Boa Esperança, continuou no emprego, e o pai, que é agricultor, foi quem abandonou o trabalho, para ficar em tempo integral com o Enzo. “Nessa época de pandemia, quando as aulas eram on-line, teve ocasião em que, ele estava na UTI, intubado, e eu com computador lá dando aula, meus alunos nem sabiam. Fora disso, eu vinha e voltava a cada 40 dias. Alugamos uma casa perto do hospital e a nossa rotina era entre consultas, internações e tratamento. Tem que ter muita força e fé, senão, não tem como aguentar”, fala a mãe.
A doença
Há sete anos, os pais do Enzo, tiveram a difícil notícia de que, o menino estava com câncer. Enzo, que tinha só cinco anos, ficou internado para tratamento quimioterápico, e a princípio, tudo tinha dado certo e ele conseguiu a remissão da doença. Um ano depois, apareceram manchas roxas entre o nariz e olho dele. Novos exames apontaram a volta do câncer. Com nova internação, a equipe médica avisou que Enzo seria encaminhado para São Paulo, logo após conseguir remissão da doença, para um possível transplante de medula óssea.
Por lá, o menino continuou a quimioterapia para zerar a leucemia e começou a busca por um doador no banco de medula óssea. Após meses, em 2018, foi encontrado um doador, apenas um no mundo capaz de salvar a vida do menino. Com o transplante, deu tudo certo, a medula pegou. Mas, através do exame foi visto que o organismo do Enzo ia perdendo aos poucos a medula do doador, e segundo a mãe dele, os médicos não sabem explicar a razão disso.
Em 2020 ele sentiu uma dor em uma parte da cabeça. Os novos exames trouxeram o que os pais tanto temiam: a presença dos blastos e o Enzo, novamente com leucemia. Foi aí que eles voltaram para Barretos, e Enzo foi internado, os médicos já afirmaram, que seria necessário outro transplante. A busca por outro doador começou. Nesse tempo, segundo os pais, o filho deu sinais que seu corpo não suportava mais tanta medicação. Ele teve sepse, ficou na UTI intubado, se recuperou e conseguiu pela terceira vez, um doador compatível, mas que infelizmente havia se contaminado com o novo coronavírus. De acordo com os médicos, Enzo tinha pouco tempo, mas surgiu um novo doador de 40 anos, da Alemanha e compatível.
Enzo foi internou para seu segundo transplante, em março do ano passado. Com 11 dias, a medula pegou. “A previsão era para irmos embora ao final de setembro, mas, tiveram as intercorrências e a volta foi adiada. Mesmo assim, conseguimos retornar para casa, e agora, é vida nova para ele e para todos nós”, fala a mãe.