segunda-feira, fevereiro 10, 2025
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Ilustres moradores

Tem gente que não precisa ser bonito, rico e com uma experiência enorme no mercado de trabalho, para ser famoso. Assim se tonaram alguns venecianos que fizeram da rua, suas moradias e ponto de encontro com os outros moradores. Seja nos bares ou nas praças da cidade, cada um deles trouxe e traz alegria por onde passa. Nova Venécia é assim, cheia de personagens que somente ela tem e sabe porque

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Nova Venécia teve e tem muitos moradores queridos que andam ou vivem nas ruas da cidade. Alguns deles moravam em praças, ou no cantinho da casa de alguém. Já outros, contam ou contavam com a moradia na família. Entre eles, Sabará, Nego Pelego, Mapú, Chico Pinico, Chumbão Galinha, Nadir, Hidelbrando, Ivan Paparazzi, entre tantos outros.

O caderno de Matérias Especiais decidiu fazer um apanhado e contar um pouco da história dessa gente, que faz parte da lembrança de muitos. Além disso, tem o legado histórico, contexto cultural e folclórico, os tornando inesquecíveis. Nossa intenção hoje é de homenagear esses lendários e imortais venecianos.


Lendário Cancão

Os pés descalços, as calças arregaçadas até perto dos joelhos, camisa amarrada no umbigo e um chapéu na cabeça. Muitas vezes carregava uma trouxa, e pelas ruas, lá ia ele, levando sua autenticidade por onde passava. A descrição é de um ex-morador de Nova Venécia, que fez história por aqui, deixando seu nome cravado no contexto cultural popular: Luiz Assunção de Lima, ou simplesmente, Luiz Cancão.
O lendário homem que sempre era visto nas escadas onde funciona os Correios, no Centro, se tornou figura mais que popular nas décadas de 80 e 90. Agora ele está com 78 anos e hoje mora em uma casa para idosos, no município da Serra. A responsável por Cancão, é a irmã, a Zuleide de Assunção Lima da Costa, 73, que não passa uma semana sem ir vê-lo. A aposentada relata, que há 15 anos Luiz passou a morar com ela, mas que, como agora ele necessita de cuidados especiais, ela não conseguiu continuar cuidando dele em sua casa. “Eu envelheci também, não tenho força física para fazer o que ele necessita. Ele tem problemas de saúde vindos da bebida, a cirrose, por exemplo. Não é lúcido e precisa de auxilio, eu sou viúva e não consegui cuidar dele sozinha. Lá meu irmão está bem, é uma clínica particular, com todos profissionais necessários. É pertinho da minha casa”, diz Zuleide.
A aposentada conta que, quando a mãe separou da pai, ela e os irmãos, o Luiz e o Marcos, ficaram com os avós maternos, o Manoel Joaquim e Maria Marrone. Já os outros irmãos, a Maria Luíza e o Guilherme, ficaram com os avós paternos. “Quando minha avó materna morreu, eu fui entregue a uma família de Colatina, que é o pai do doutor Wilson Barcelos, pediatra e morador de Nova Venécia. Fui criada por eles e não tive mais contato com meus irmãos até ter uma idade mais velha”, diz.

» Hoje o ex-morador de Nova Venécia é conhecido somente por Luiz e mora na Serra com a irmã, a Zuleide

A morte do pai
De acordo com a Zuleide, o que provocou a confusão mental do Luiz, foi o assassinato do pai, o agricultor Sebastião José Lima. Cancão tinha por volta de 17 anos, quando isso aconteceu. A aposentada conta que, existe a história da morte do irmão deles, o Marcos, que não sobreviveu à Guerra do Araguaia, quando lutou como combatente. “Mas não foi isso que fez meu irmão ter tido esse trauma mental, foi a questão do assassinato do nosso pai”, fala.

Cancão em Nova Venécia
Luiz Cancão faz parte das lembranças de muita gente, tanto que tem até uma música em homenagem a ele, de autoria do dentista e vocalista da Banda UH, Paulo Rodrigues, intitulada de “Mister Cancão”. Era comum as crianças terem medo dele, já que de vez em quando, elas o irritava e ele dava uma “carreira” atrás da meninada. Mas nada que atrapalhasse ser aquele homem bom, que não fazia mal a ninguém.
Lendário e inesquecível, Cancão estudou até a 5ª série, na escola Claudina Barbosa. As histórias populares contam que ele já foi alfaiate e jogador de futebol. Como era querido pela população, pedia sempre “um cruzeirinho” por onde passava. A comida também eram os moradores que davam a ele. Luiz costumava dormir em um canto onde hoje tem a Oficina do Joadir Cavati. Banho? Ah! Ele gostava mesmo de desfrutar de um dos maiores cartões postais da cidade, o rio Cricaré. Lá ele jogava água para cima e fazendo barulho, atraia a atenção e o carinho dos que tanto gostavam dele.

» Calça alta, dobrada nas pernas, e o
chapéu de um Luiz Cancão que deixou seu
nome cravado na história popular veneciana

Terno e gravata

Outro “patrimônio imaterial” que se mistura com a história da cidade é o Vitório Alves de Souza, que apesar de ter falecido há 30 anos, tem uma história pelas ruas venecianas. Como sempre gostou de uma cachacinha e qualquer outra bebida alcóolica, o vício o levou para as ruas e longe da família.

Vitório era conhecido por alguns jargões, como por exemplo, “ô gente boa”. Gostava também de contar a tal história de um certo fazendeiro de Nova Venécia, que se engraçou com a esposa do vaqueiro, e ao ser descoberto, o vaqueiro jogou o balde de leite no patrão. Quando perguntavam quem era o fazendeiro, ele dizia: aí é rabo! Esta história era sempre divulgada por ele. Outra característica do homem que morava em vários cantos da cidade, era falar sobre os políticos, e sempre mal. Mas adorava estar num palanque, e os políticos adoravam ele. “Quando o voto era no papel, ele tinha muitos. O pessoal colocava o nome do Vitório nas cédulas de votação, só de brincadeira”, se diverte o empresário João Geraldo Coser.

Se alguém quisesse que alguma história caísse nos ouvidos do povo, era só contar para aquele que adorava andar pelas ruas, de terno e gravata. Entre as coisas engraçadas de Vitório, era que, quando ele achava que estava em meio a uma confusão, para se safar, já dizia que era afilhado do seu Geraldo Coser e da dona Edilha. Outra característica inesquecível, é que se o chamasse de Vitório Terrinha, era confusão na certa.

Para dormir, Vitório tinha vários lugares de improviso, entre eles: no porão da família Coser, casa do médico Jovelino, e na casa do comerciante Zé Drago. Para almoçar tinha comidinha caseira e de graça, na Pensão Pereira e noantigo Bar Tabacaria.

Filho de Sylvio Alves de Souza e Maria da Silva Velha, Vitório morreu aos 55 anos, em 1988. Na época, já morava na Casa do Vovó. Uma pessoa querida pelos moradores da cidade, que entre os anos 70 e 80 era a alegria onde chegava, exceto, para Luiz Cancão. Onde um estava, o outro não entrava. Quando se esbarravam pelos bares e pelas ruas, com certeza vinha o jargão por parte de Vitório, ao avistar o “inimigo”: Aí é rabo!

» No estilo que ele gostava, de terno e gravata, Vitório Alves dos Santos (E) e seu amigo Hidelbrando

Ex-combatente de guerra

A reportagem tentou encontrar a família do Braun, para contar um pouco da vida dele, já que também representa a cultura popular folclórica de Nova Venécia. Ninguém foi localizado. A equipe conversou com algumas pessoas que o conhecia, entre elas, o funcionário público Carlinhos Alves, que relatou, que Braun chegou a morar numa casinha onde hoje é o Assentamento do Alegre.

Quem viveu na mesma época que Braun, sabe que ele era ex-combatente de guerra e lutou contra os alemães. O trauma das condições que enfrentou durante o combate, deixou sequelas. Braun dizia ouvir barulhos de bombas, e pelas ruas de Nova Venécia, saia andando e emitindo o som dos estrondos das bombas: braum, braum, braum. Foi daí que veio seu apelido. Alves acredita que ele deve ter morrido aos 79 anos, na década de 80.


Nova safra

Domercino Sirqueira? Alguém conhece? E Mapú? Ele faz parte da nova safra de lendários moradores de Nova Venécia, que gosta mesmo é de andar pelas ruas, principalmente entregando panfleto. Aos 61 anos, Mapú gosta de tomar vinho, mora com o irmão no bairro Bethânea e adora dançar forró.

É na Praça do Imigrante um dos seus redutos diários, e seu assunto predileto é a política, não costuma falar bem de nenhum deles. Apesar disso, Mapú é querido por onde passa, desde de que não o chame de Mapú pé de pato; fica bravo. A família diz que o apelido veio entre os irmãos, mas que ninguém sabe exatamente o porque. Mas isso não importa. O interessante é que o veneciano está aí, e levando alegria por onda passa.

Lucas Paschoal Brandão, ou melhor, o Lagartixa, é outra figura ilustre que sempre está presente nas cavalgadas, bares e praças. As roupas no estilo country são suas prediletas. O chapéu na cabeça, dificilmente é esquecido. Famoso por gostar de uma cervejinha, cachacinha ou qualquer líquido que contenha álcool, o morador do Bela Vista também é presença bem vinda por onde circula. Tudo isso e essa gente maravilhosa são heranças de Nova Venécia que, jamais perde seu carinho por estas pessoas, que representam a cultura popular da cidade.

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