O etnolinguista especializado em línguas indígenas brasileiras e na língua pomerana, professor doutor Ismael Tressmann, mais uma vez foram homenageados na Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, em Vitória, no próximo dia 10.
Doutor Tressmann estudou no Departamento de Pós-Graduação em Antropologia Social e no Departamento de Pós-Graduação em Linguística, todos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e cursou pós-doutorado em Linguística e em Estudos Culturais na Alemanha. É, também, um dos principais pesquisadores da língua pomerana e de estudos em antropologia social sobre o povo pomerano do Brasil.
Entre muitos artigos, capítulos de livros e livros por ele organizados e editados, publicou, em 2006, o primeiro Dicionário Enciclopédico Pomerano-Português do mundo. Esse dicionário é fruto de longas pesquisas, e é a principal fonte de consultas na construção do Programa de Educação Escolar Pomerana (Proepo), juntamente com o livro “Upm Land”, “Na Roça, naque mesmo ano.
Entre 1988 e 1995, o professor Tressmann pesquisou e trabalhou entre os povos Cinta Larga e Zoró, cujas línguas pertencem à família linguística e complexo cultural Tupi-Mondé.
Após a criação, por ele, do Projeto de Educação Escolar Cinta Larga e Zoró, na Amazônia Brasileira, em 1987, e as suas pesquisas, especialmente das línguas desses povos indígenas, o professor Tressmann elaborou uma proposta de ortografia para as mesmas. Depois de as respectivas comunidades indígenas acatarem as propostas do investigador, foi dado início à alfabetização de vários grupos de educandos(as), em suas línguas maternas. Dentre esses educandos(as), muitos se tornaram, mais tarde, os professores e as professoras em meio aos seus respectivos povos.
A partir das vivências em aldeias e as experiências com a educação escolar indígena, o professor Tressmann considerou viável estender os conhecimentos adquiridos, alicerçados numa base teórica (científica), em linguística e em antropologia, para as comunidades pomeranas. E o início dessa atuação na área de pesquisas junto às comunidades pomeranas se deu justamente em Espigão do Oeste, Rondônia, Amazônia Brasileira, ao lado de suas pesquisas e atuação entre os povos indígenas.
Dois anos depois, em 1997, quando cursava o mestrado em Etnolinguística, propôs e coordenou o Seminário intitulado “Proposta de (Orto)grafia da Língua Pomerana”, do qual participaram pomeranos(as) de várias comunidades do Espírito Santo. O encontro aconteceu em uma das dependências da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, em Santa Maria de Jetibá. Depois aconteceram outras dezenas de reuniões coordenadas pelo doutor Tressmann para se chegar a um objetivo comum e à implementação da Educação Escolar Pomerana em comunidades capixabas.
A primeira reunião para a criação do atual Programa de Educação Escolar Pomerana, Proepo, foi idealizada pelo professor Tressmann, entre os anos 2003 e 2004. Toda essa pesquisa foi base para outros projetos e eventos que hoje fortalecem o movimento cultural pomerano no Espírito Santo e até mesmo em outros estados como Rondônia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A homenagem foi proposta pelo deputado Adilson Espíndola que já fez diversas homenagens à cultura pomerana no estado. O Deputado é pomerano e o que mais trabalha o tema nessa casa de leis.
Além dos fundadores, também serão homenageados professores, coordenadores, secretários) municipais e outros profissionais ligados ao Proepo. Cerca de 50 pessoas envolvidas nessa questão serão homenageadas, vindas dos municípios de Vila Pavão, Santa Maria de Jetibá, Pancas, Domingos Martins, Laranja da Terra, Afonso Cláudio e Itarana.
Outro homenageado será o professor Jorge Kuster Jacob, de Vila Pavão, pesquisador que, além de ter participado dos primeiros encontros de revitalização da história, da língua e da cultura pomeranas no Espírito Santo e no Brasil, também criou diversos eventos em Vila Pavão para fortalecer o que hoje podemos chamar de Movimento Cultural Pomerano no Brasil.
O professor Tressmann costuma dizer que “A Pomerânia é Aqui”, pois “após mais de um século e meio em território brasileiro, o povo pomerano recriou em terras sul-americanas o modo de vida camponesa das terras banhadas pelo Mar Báltico do leste europeu, a sua cultura e a língua baixo-saxônica”. Em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha teve que entregar mais de 70% do território da antiga Pomerânia para a Polônia. E os pomeranos da parte que atualmente integra o território polonês foram expulsos de sua terra natal, e tiveram que deixar da noite para o dia suas casas e sair só com pertences que conseguiam carregar com as mãos, mudando-se para Alemanha e países como os Estados Unidos e Austrália. O Prof. Jorge costuma afirmar que “na Alemanha temos meia dúzia de idosos, com mais de 70 anos de idade, que ainda falam a língua pomerana. Enquanto que no Brasil, em especial no Espírito Santo, encontramos milhares de crianças com 7 anos de idade que falam a língua pomerana”.