quinta-feira, outubro 10, 2024
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Por que o nosso Natal permanece ‘europeizado’?

Historiador afirma que as festividades natalinas refletem a condição colonizada do país

Um homem vestido de Papai Noel em uma avenida ensolarada ou um simulacro de pinheiro a milhares de quilômetros de distância de seu bioma original. Esses e outros cenários de fim de ano sugerem um descompasso entre a realidade cultural e natural do Brasil e os simbolismos e imaginários do Natal.

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A falta de um “abrasileiramento” nos festejos da data deixa ainda mais nítida a nossa condição de país colonizado, de acordo com o historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr. Ele aponta que o Natal, até certo ponto, não foi recriado em terras brasileiras por uma questão social.

“O Natal durante muito tempo foi uma festa – até pela por aquilo que cobra em termos financeiros para sua comemoração – uma festa de classe média e classe média alta”, afirmou o historiador no programa Bem Viver desta segunda (25).

Como contraponto, Durval Albuquerque Jr. afirma que o São João e o Carnaval, por exemplo, tiveram situação diferente nas novas relações em terras brasileiras.

“As festas que se ‘abrasileiraram’ foram as que camadas populares tiveram um papel e uma participação. Em que descendente de indígenas e africanos tiveram uma participação muito maior, como é o caso, por exemplo, do Carnaval”, destaca.

Como exemplo, o pesquisador ressalta que nem todas as pessoas podem comprar as “exigências” da ceia de Natal, enquanto as comidas típicas do São João são mais acessíveis.

“Essas são questões marcantes para uma sociedade muito marcada pela miséria, como é a nossa. O Natal é uma festa muito mais difícil de ser comemorada. Quer dizer, o que as pessoas mais pobres fazem no Natal? Normalmente eles transformaram em uma festa comum. Quer dizer, em que se dança, em que se bebe e se come o que se tem ou que se pode. Então, o Natal não é propriamente uma festa popular”, afirma.

O historiador lembra que o carnaval brasileiro foi totalmente modificado diante das influências europeias das festas de salão de Veneza, por exemplo. No país, a influência religiosa afrodescendente é marcante nas festas de fevereiro. No Natal, de acordo com Albuquerque Jr. uma boa parcela da população se diz católica “por costume”, apesar de não ser praticante.

Ressignificações

Sobre a origem do Natal, Durval Albuquerque Jr. destaca que a data remonta “uma grande transformação feita pela igreja católica”. É que no hemisfério norte se comemoravam as festas pagãs do solstício de inverno, que costumam ocorrer entre os dias 21 e 22 de dezembro, com dias os dias mais curtos e com as noites mais longas. No hemisfério sul, a situação é inversa.

“O Natal foi criado para ressignificar as festas pagãs da colheita, do solstício de inverno na Europa. Então, os produtos que se colhe no inverno, no solstício – que é essa passagem, essa mudança de estação, do outono para o inverno – foi convencionalmente colocado como o nascimento de Cristo. Não se tem certeza de que Cristo nasceu em 25 de dezembro”, explica.

De uma convenção da igreja, o Natal também apropriado pelo capitalismo. O mote seria a oferta de presente que os três Reis Magos teriam levado ao menino Jesus, no caso, incenso, ouro e mirra. Porém, a forma de consumismo fluiu de forma distinta em outros lugares.

“O Natal associado a entrega de presente não funciona em todos os lugares. Na Espanha, por exemplo, se distribui presentes no Dia de Reis, na chamada Cavalgada de Reis”, pontua.

Como um contraponto, o historiador lembra que no Brasil o 6 de janeiro foi mais popularizado, com as Festas e Folias de Reis, por exemplo.

“Aqui no Brasil, os presentes ficaram para o Natal e isso levou a data a ser cada vez mais ressignificada pelo capitalismo. Quer dizer, cada vez mais o Natal foi transformado numa data para comprar roupa, coisas novas para casa, ceia, presentes e distribuir presentes. Então o Natal foi perdendo muito da sua dimensão religiosa e virando em grande medida também uma festa. Curiosamente, uma festa mundana e pagã”, resume.

Sentido

Ao lembrar o subgênero literário dos auto de natal, Durval Muniz de Albuquerque defende o sentido “da vida” da data.

“O que que é o Natal? É uma comemoração da vida, do nascimento. Nós devemos comemorar a vida, embora sejamos as únicas pessoas que morrem e sabem disso. Até por isso, por sermos mortais e saber disso, precisamos valorizar a vida e fazer um canto à vida”, define.

Ao destacar uma sociedade cada vez mais intolerante e individualista, o historiador ressalta os valores de amor e solidariedade como fundamentais para o 25 de dezembro ecoando o ano inteiro,

“Eu acho que o fundamental no Natal são os valores que ele transmite e que eu acho também são valores que têm sido muito deturpados, justamente pela sua mercantilização”, afirma.

*Com informações de (Daniel Lamir) Brasil de Fato 

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