A Rede Cuidar Norte, localizada em Nova Venécia, deve ser inaugurada em setembro. Quem confirma a informação é a gerente da Unidade, Gilmara Sossai.
A Rede Cuidar é um processo de trabalho novo, em que a equipe de saúde elabora um plano de cuidados para cada paciente. Esse plano é feito pelo conjunto de especialistas da unidade (médico, enfermeiro, nutricionista, educador físico, assistente social, etc.) junto com o paciente, em função do problema de saúde dele.
Assim, o paciente não mais será atendido apenas por um especialista e sairá da consulta com uma receita médica e um pedido de exames. O atendimento vai gerar dentro da unidade um plano de cuidados, que vai ser gerenciado, no dia a dia, pela equipe de atenção primária do município onde esse cidadão mora. Então, existe uma interação muito grande entre a unidade de especialidades da Rede Cuidar e a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) do município onde o cidadão vive.
A atenção primária vai acompanhar o paciente para ver se ele está seguindo a dieta recomendada, se está fazendo atividade física, se está cuidando de uma lesão do pé diabético, se está tomando a medicação de forma adequada, se os exames que ele tinha que fazer foram realizados, enfim, isso tudo vai ser gerido pela atenção primária. E os dois serviços, PSF e Unidade Cuidar, vão interagir o tempo todo.
Em Nova Venécia, além de Gilmara, o corpo gerencial da unidade será composto pelos enfermeiros Celso Albino, que será o coordenador assistencial, e Gleikson Barbosa, o Kim, que será o coordenador financeiro.
Em entrevista exclusiva ao Jornal A Notícia, Gilmara, que é formada em Administração com ênfase em Administração Hospitalar, detalhou todo o funcionamento da Rede Cuidar em Nova Venécia. Confira:
Serviços
“Os serviços que iremos atender aqui serão de 14 especialidades médicas, mais uma equipe multiprofissional, formada por enfermeiros, nutricionista, psicólogo, assistente social, educador físico, fisioterapeuta, terapeuta educacional, que vai estar complementando essa equipe de serviços médicos”.
Inauguração
“Estamos trabalhando com todo afinco para que a unidade seja inaugurada em setembro”.
O que falta?
“A instalação de alguns equipamentos que requerem uma estrutura totalmente diferenciada, como, por exemplo, o raio-x. Para instalá-lo, primeiramente, tivemos que licitar a empresa de serviços médicos, que irá fazer o serviço. Para isso, tem que fazer uma adaptação da área. As paredes já estão preparadas, mas a rede de energia é diferenciada, tem que fazer a adequação da área física de acordo com o modelo que vai ser colocada aqui. São pequenos ajustes, mas a aquisição do equipamento já está em andamento e nesta semana, a empresa já veio aqui para fazer o estudo da área física”.
Expectativa
“Na abertura, nós temos a meta de atender 45 pessoas pela manhã e 45 à tarde. É importante frisar que são 45 pacientes pela manhã que serão atendidos por uma equipe multiprofissional. Então, é importante a gente esclarecer que o paciente, como um diabético, por exemplo, virá na Rede Cuidar, mas não virá consultar apenas com o endocrinologista. Ele vem, vai ser recebido, vai ser explicado como vai ser feito o atendimento e a expectativa é que ele fique na unidade de três a quatro horas, porque ele irá passar por um endocrinologista, cardiologista, educador físico e nutricionista, para sair daqui com um plano de cuidados. Essa unidade é direcionada, principalmente, para pacientes portadores de doenças crônicas, onde hoje nós iremos trabalhar, prioritariamente, com cinco linhas de cuidado, que são a hipertensão, o diabetes, a saúde da mulher, a saúde da criança e diagnóstico em oncologia.
A oncologia é para diagnóstico, porque nós percebemos em um estudo feito em nossa região, que os pacientes que estavam com suspeita de um câncer, demoravam muito tempo para conseguir passar por um especialista, para fazer uma biópsia, para detectar se era realmente um câncer ou não, e aí nós falamos que o diagnóstico era feito tardiamente, fazendo com o que o resultado não fosse o mesmo caso fosse detectado no início”.
Oncologia
“O profissional médico vai fazer a biópsia aqui dentro, tirando a amostra, para depois nós encaminharmos para um laboratório de anatomia patológica. Então, esse paciente vai ter todo um diagnóstico diferenciado aqui dentro. Se não for um câncer, nós orientamos como tem que ser feito o tratamento. Se for, aí nós vamos encaminhar para um hospital de referência”.
Atendimento
“Nós não vamos ter agendamento direto aqui. É importante as pessoas entenderem que essa unidade é um apoio à atenção primária em saúde. Nenhum paciente vai chegar aqui se ele não estiver sendo acompanhado pela Unidade Básica de Saúde, que é a referência para o paciente. Para chegar aqui, obrigatoriamente tem que passar por uma UBS, que vai encaminhar para cá. Por isso o nome, Rede Cuidar. Porque ela é uma rede de cuidados que começa na atenção primária e passa pela atenção ambulatorial especializada, que é o que nós oferecemos.
É importante as pessoas entenderem, também, que não podemos deixar acontecer aqui o “efeito velcro”, ou seja, o paciente vem para a consulta e continua seu atendimento no ambulatório, sem retornar depois para a Unidade Básica de Saúde. Ele faz a consulta, faz o exame e volta para a UBS. O paciente é de responsabilidade da atenção primária, que faz a saúde da família e acompanha esse paciente no dia a dia. Ela não pode perder esse vínculo com o paciente que vem para cá. Nós vamos dar todo apoio necessário, mas a referência dele sempre será a atenção primária.
Quando nós falamos que o foco da nossa unidade é o atendimento a doenças crônicas e é importante nós falarmos que é feita uma pactuação com os pacientes portadores após ser feito o plano de cuidados. Vou citar como exemplo, um paciente diabético. O educador físico perguntará se ele consegue caminhar. Ele dirá que sim, por não ter nenhuma limitação física. A indicação do profissional é que ele caminhe cinco vezes por semana, mas ele diz que só conseguirá caminhar três vezes. Dentro deste formulário terá o que foi indicado e o que ele se comprometeu a fazer para que ele seja acompanhado pela atenção primária e ele só retornará para a unidade com o acompanhamento da UBS, porque não adianta nada eu querer cuidar de um paciente crônico se ele não entender que a responsabilidade é 70% sua e 30% de uma equipe que orienta.
A nossa preocupação com esse paciente diabético é que amanhã ele não precise chegar a um hospital para precisar fazer uma amputação de membros e para que ele tenha uma condição de vida adequada”.
Documentação
“O paciente que vier para cá trará um documento da atenção primária, mas ele tem que cumprir uma série de requisitos, que nós falamos que é estratificação do paciente. Não é necessário trazer cartão do SUS, porque o sistema de atendimento será todo integrado e quando ele chegar, já teremos tudo aqui”.
Horário de atendimento
“A princípio, nós iremos começar das 7h às 18h, porque o paciente não vem aqui fazer apenas uma consulta. Por via de regra, ele vem e passa por diversos profissionais. Então, nós queremos trabalhar com um bloco de horas”.
Hospital São Marcos
“Nós entendemos que esse é um trabalho a longo prazo. Vou usar o mesmo exemplo de um paciente diabético, que ele não tinha uma atenção ambulatorial especializada, um acompanhamento, uma orientação, e o que acontecia? Ele agudizava. Ele passava mal e acabava indo para o Hospital como uma urgência e emergência. Nós, começando esse trabalho, é lógico que não conseguiremos atender toda população de uma vez só, mas ao longo dos anos, nós iremos ver sim a redução de casos de internação. Nós fomos visitar serviços onde tem a atenção ambulatorial especializada e vimos, estatisticamente, a redução drástica do número de internação de pacientes com doenças crônicas”.
Secretaria de Saúde
“Sem o município e a organização da atenção primária, nós não vamos ter sucesso aqui na unidade, tanto que há um ano, nós estamos trabalhando com o que chamamos de planificação de atenção à saúde, que passa pela reorganização da atenção primária do município, passa pela Rede Cuidar e chega ao que nós chamamos de nível terciário, que é o hospital.
Sem o município, nós não existimos. Eu não consigo pensar a Rede Cuidar sem a atenção primária. Nós trabalhamos juntos o tempo todo. Não tem como isolar uma da outra. É uma rede de cuidado e atenção à saúde. Nós estamos apostando todas as fichas nesse novo modelo de organização da saúde”.
Cim Norte
“Nós temos 14 municípios que fazem parte dessa rede de atenção e trabalhamos dentro da regionalização da saúde, na lógica de oferecer o serviço mais próximo do paciente, evitando um deslocamento até Vitória. Mas nós não vamos tirar todos os veículos que vão para a capital, até porque não conseguimos atender todas as especialidades aqui, mas esse é o começo de um trabalho, de um processo, onde nós veremos o que está dando certo, o que está dando errado. É o único estado brasileiro que está adotando este modelo. Em todo o país, até hoje, somente alguns municípios já trabalham com este sistema. Esse processo que estamos fazendo aqui de reorganização da atenção primária, com planificação da rede de atenção à saúde, com atendimento ambulatorial especializado, é único. Nós não estamos fazendo isso sozinho. Existe um trabalho enorme da Secretaria de Estado da Saúde, a nível central e regional. Nós temos um trabalho intenso da nossa regional, através da superintendente Pretta Cani, e também uma parceria muito forte com o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS), buscando as referências nacionais para que esse processo dê certo”.
Ricardo de Oliveira
“O nosso grande incentivador é Ricardo de Oliveira, Secretário de Estado da Saúde, que viu a questão da situação do Norte, do nosso grande vazio assistencial, das nossas dificuldades e das distâncias. Nós temos os municípios mais distantes da capital. Em 2015, nós, profissionais da saúde dos 14 municípios da região, através de uma parceria com o HCor, num projeto do Ministério da Saúde, elaboramos um plano de intervenção regional e o nosso secretário abraçou isso e nos incentivou muito. Foi feito em todo Estado, mas pela nossa necessidade, ele quis que começasse por aqui”.
Capacitação
“Dias 28, 29 e 30, nós teremos uma nova capacitação, que vai ser uma integração da atenção primária com a ambulatorial especializada, juntamente com a Sesa central e regional, e o CONASS. Os nossos futuros profissionais da Rede Cuidar estarão todos aqui”.
Geração de empregos
“Eu diria que empregos diretos, a princípio, nós vamos começar com uma equipe de cerca de 20 profissionais da Rede Cuidar, mais cinco da equipe de higienização e mais 30 a 35 pessoas dos serviços médicos. São cerca de 60 empregos diretos. E ainda tem as empresas de prestação de serviços que estão sendo contratadas. É mais emprego vindo para nossa região e pessoas vindo para o nosso município, o que faz girar a economia”.
Convite
“Na época, entendeu-se que precisava-se definir um gestor para a unidade e foi feita uma lista tríplice. Foram indicados três nomes e foi conversado com eles, se eles teriam interesse em vir, o meu nome foi um dos indicados e eu tinha interesse sim. Pelo projeto, por tudo que está sendo proposto, pela mudança de paradigma, mesmo entendendo que não seria um projeto fácil, e não está sendo, porque nós estamos construindo esse processo. Não encontramos nada pronto. Até o sistema que será usado aqui, está sendo desenvolvido por esta equipe.
Nesta lista tríplice, houve uma votação entre 11 municípios, na época, e sete prefeitos me escolheram. Fiquei muito feliz. Minha família está em Nova Venécia. Não foi fácil tomar essa decisão. Muitas pessoas falaram que me livrei do Hospital Roberto Silvares, mas trabalhar lá foi um grande aprendizado e uma grande realização. Nós, seres humanos, temos essa característica de enfatizar o que é ruim, mas o trabalho desenvolvido lá é maravilhoso. Muitas vidas são salvas. Eu tinha muito prazer e orgulho de trabalho no Roberto Silvares.
Quando eu me despedi de lá, eu disse que estava deixando por dois grandes projetos. O primeiro, é o projeto de Deus, que é a minha família, que é muito importante para mim, e o projeto da Rede Cuidar, que ele é a realização de um sonho. Quando nós conseguimos colocar para funcionar como se deve, será uma realização pessoal e profissional. É humanizar e tirar as pessoas da estrada. Os pacientes de Mucurici e Ponto Belo saem de suas cidades 23h para chegar em Vitória no outro dia de manhã. Essa é a realidade que queremos e vamos mudar. Muitos paradigmas serão quebrados. Nós vamos conseguir se reorganizar como região de saúde. Tem muita coisa boa por vir. Os gestores da nossa região estão trabalhando fortemente para mudar essa realidade de que tudo tem que ir para Vitória”.
ESPECIALIDADES
Ginecologia, pediatria, neurologia, mastologia, endocrinologia, cardiologia, angiologia, oftalmologia, otorrinolaringologia, urologia, nefrologia, dermatologia, gastroenterologia e proctologia.