Após um relacionamento conturbado, professor universitário afirma que apoio foi fundamental para processo de recuperação e recomeço de vida
“Eu tive um relacionamento amoroso tóxico que culminou em um estelionato sentimental. Sofri muito. Eu era um profissional seguro financeiramente. Porém, após o crime, fiquei sem renda, em situação de vulnerabilidade social. Não posso detalhar demais porque a denúncia está em processo na justiça. Isso ocorreu durante a Pandemia da Covid-19, que, creio, deixou as pessoas mais vulneráveis. Evidentemente, comigo não foi diferente. Para que eu pudesse enfrentar uma situação tão complexa e traumática, os serviços do CAPS foram fundamentais a fim de que o nosso processo de superação, recomeço e cura fosse alcançado. O termo estelionato sentimental significa quando, numa relação amorosa, uma das partes tem a intenção de obter para si ou para outrem, vantagem ilícita em prejuízo alheio, incentivando ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, como se fosse uma cilada/armadilha ou qualquer outro meio fraudulento. Este tipo de situação, infelizmente, acontece muito, principalmente com mulheres e grupos LGBTQIA+. Outra questão é que, fui violentado dos 04 aos 07 anos de idade, por um amigo de confiança da família. Na época fui proibido de falar qualquer coisa sobre o assunto. Era culpabilizado pela sociedade. Não tive ajuda profissional e minha fuga foi a leitura, muita leitura (aprendi a ler e escrever sozinho aos 04 anos), teatro (funcionou como uma grande terapia) e Fé. Além disso , tive o privilégio de ter ao meu lado uma mãe muito afetuosa e um avô (negro e analfabeto) que era um grande contador de histórias, um exemplo para mim – meu grande herói. A partir dos 08 anos apaguei esse acontecimento da memória e só voltou, há pouco tempo, por meio de psicoterapia, após a violência recente. Tinhas pensamentos suicidas até então, mas sempre canalizei a minha dor por meio da leitura, escrita e arte. Sou poeta, autor de peças de teatro desde os 08 anos de idade, quando ganhei meu primeiro concurso de poesia ainda na infância.Meu último trabalho literário narra meu processo de aprendizagem de vida. Minha libertação aconteceu lentamente: reconhecimento das minhas dores, auto-perdão, muito estudo e, finalmente, ajuda profissional com psicólogo e psiquiatra. Sou professor há 35 anos, dentre esse período, há 30 anos pesquiso, crio métodos e desenvolvo projetos sobre saúde emocional à luz da educação, arte e cultura. Destaco que nunca tentei, de fato, me matar, foram mortes simbólicas. Anos depois, tive um filho e prometi que ele jamais passaria por tudo que passei. Tudo em vão. Ele sofreu bullying (com violência), foi simbolicamente abandonado pela mãe, aos sete anos de idade, teve isolamento social, depressão e, aos 18 anos teve um surto psicótico. Tentou três suicídios: com remédios, tentativa de pular do décimo andar de um prédio e, por último, pegou uma faca, segurou-me pelo pescoço e ameaçou. “Vou te matar e me matar”. Usei meu amor incondicional e autoridade de pai e contornei a situação. Ele ficou três meses internado numa clínica psiquiátrica e diagnosticado com esquizofrenia. Foram dez anos de muita persistência, ajuda de amigos, fé e coragem até ele ficar em situação estável hoje. Interessante enfatizar que ele constantemente me pede perdão pelo episódio. Tenho a benção de ouvir, todos os dias, antes de dormir, há dez anos: ‘Pai, eu te amo!’. Somos o melhor amigo um do outro e tenho orgulho do filho que tenho. Hoje, estamos muito bem. Aprendemos com essas experiências a recomeçar, a ter a humildade de reconhecer nossa necessidade de ajuda e, principalmente, que compartilhar nossas experiências de dores e de lutas são uma forma poderosa de amar. Podemos expandir nossos bons afetos e, quem sabe, ajudar as pessoas que passam por problemas parecidos”.